Primavera

Cadernos e caneta em cima de uma mesa

PRIMAVERA

Era uma manhã quente, com luz de mel. Tinha um sabor doce, como se escorresse pela garganta a grossura lenta dos raios dourados do sol. Madalena sabia que queria andar na rua, só porque o amanhecer pedia. Desceu a calçada. Levou-se leve, com roupa de desempoeirada. Cruzou-se com caras do bairro, mas não disse nada. A voz não tinha acordado, mas engrossava a cada passada. Chegou ao rio. Viu os raios espelhados na água. Parou no café que lhe despertava a voz: Um café, sff! Madalena acordou para o mundo. Sentiu vontade de reiniciar. Começou a caminhar. Hoje andaria pela mudança. Era dos ares. O ar daquela manhã tinha cheiro de flor, Madalena inspirava fundo e enchia o peito do ar amarelo, florido. Madalena parecia que rasgava rumo.